Ontem foi talvez um dos dias mais tristes que tive nos
últimos tempos...
Como não ia visitar o Centro de Lagos há algum tempo, ontem
decidi fazê-lo. Acompanhado, parti para um domingo descontraído passeando pelas
ruas históricas de Lagos (pensei eu). Estaciono perto dos táxis, damos uns
passos e ficamos por uns momentos observando o braço de rio que se estende até
ao Oceano Atlântico! Um final de tarde perfeito.
Atravessando uma das passadeiras que acede à Rua Portas de
Portugal, cedo nos deparamos com o que seria o início de uma desolação total.
Após uma curta incursão pela calçada que tantas histórias guarda, fomos de
imediato “assaltados” por um cidadão local pedindo dinheiro para “jantar”,
certamente não seria um jantar típico dos demais cidadãos, pensei eu, ainda
para mais conhecendo referido cidadão.
Após esse episódio de abertura, qual genérico de um qualquer
filme de suspense passado num velho beco de uma metrópole deixada ao abandono,
seguimos o nosso caminho observando a tristeza de cada ténue luz como que
dizendo em lágrimas “Não desistam, pelo menos enquanto esta pouca luz resistir
ao tempo”. Senti uma total incapacidade de dizer o que quer que fosse. A minha
mente apenas me transportava para os tempos de glória do Centro da Praça Gil
Eanes, onde nestas épocas natalícias, as famílias se cruzavam pelas ruas, onde
as crianças brincavam na estátua de D. Sebastião, onde os cafés e pastelarias
se enchiam de pessoas para tomar o seu lanche e falar sobre a loja que abriu na
rua do cinema, ou sobre um outro qualquer assunto que envolvesse Lagos…outrora
a capital dos descobrimentos!
Cruzando a rua Marreiros Neto em direcção ao Cinema de
Lagos, recentemente aberto pela empresa Algarcine, desde já agradeço a muita
coragem para apostarem numa cidade onde nem os próprios governantes locais
apostam ou, apostaram…vejamos esta nova vaga governamental que ai vem. Seria
interessante que alguns responsáveis descessem dos altares do município e
dessem estes passeios de domingo a partir das 5 horas da tarde.
Mas, continuando o nosso passeio cruzando a Rua Marreiros
Neto em direcção ao Cinema de Lagos, volto a sentir uma tristeza imensa quando
o espelhar de uma vitrine devolve aos meus olhos, o triste fado de mais um
marco histórico da minha cidade! A Gombá, famosa pastelaria lacobrigense,
imensamente povoada noutros tempos, hoje perdida num meio de infraestruturas de
betão deixadas ao abandono, rodeado por lixo indiferenciado deixado pelos
cantos.
Subindo, passamos pelo belo edifício onde se estabelece o
Cinema de Lagos, em excelente estado diga-se, destaca-se na sua plenitude dos
demais edifícios que o circundam, mas pessoas? Nem sinal.
Conseguimos encontrar, desde o início do nosso passeio,
cerca de 10 a 15 pessoas de onde metade delas, o único sentimento que tivemos foi,
mudar de rua ou simplesmente afastarmo-nos o mais possível…
Após descermos e passando pelo Centro Cultural de Lagos
(fechado), vislumbra-mos a magnifica Igreja de Santo António, chegamos depois ao
“magnifico” largo completamente deserto de qualquer movimento humano, apenas
perceptível o chilrear das poucas gaivotas, as quais parecem ser as únicas
genuínas contadoras de histórias de Lagos.
Apenas na avenida dos descobrimentos, junto do rio e longe
do centro sombrio, se sente algum calor humano, alguma esperança de que um dia
Lagos voltará a brilhar. Alguns turistas, uns em família, outros por sua conta,
apreciam as águas límpidas de um outrora poluído rio, alguns deles admirados
com os milhares de peixes que à tona de água, parecem admirar mais um magnífico
fim de dia, num quadro perfeito com o atlântico como pano de fundo.
Gostava que um dia a minha cidade voltasse a ter o esplendor
de outros tempos, onde as ruas medievais testemunhassem as correrias das
crianças, as conversas de café, onde a briza centenária tocasse com leveza os
rostos saudosos a imaginar Lagos ao longo da sua história!
Lagos foi e sempre será recordada pela cidade berço dos
descobrimentos Portugueses, pelas imponentes muralhas, pelas históricas
igrejas. Pelo mar que abençoa toda a linha de costa, pela indústria pesqueira
que lhe deu vida durante décadas, pelas gentes prestáveis a todos os que por
aqui passaram, pelo comércio que fluía nas suas mais variadas categorias.
Lagos foi e sempre será recordada pela sua beleza e
tranquilidade mesmo em alturas de grande azáfama turística.
Ontem foi talvez um dos dias mais tristes que tive nos
últimos tempos, mas guardo comigo a ténue esperança que um dia tudo regresse.
Que o povo volte às ruas, hoje desertas, que o comércio volte aos becos, hoje
entregues à bruma, que os barcos voltem ao cais, hoje entregue aos bravos marinheiros
que resistem aos sinais implacáveis do tempo, que as gaivotas continuem a
contar as suas histórias num chilrear contínuo.
Espero um dia me poder sentar num daqueles cafés contigo, e
poder contar a história de uma bela cidade que me viu nascer, que eu vi morrer
e que vi renascer nas cinzas que o tempo deixou esquecido!
Lagos,
Bela cidade de luzes despida
Ruas que contam histórias
Outrora contadas…hoje perdidas
Lagos,
Bela cidade pelo oceano banhada
Suas imponentes
muralhas
Saúdam caravelas vindas das grandes cruzadas
Lagos,
Grande cidade e porto de abrigo
Para comerciante, navegador
Realeza ou sem-abrigo
Lagos,
Cidade minha que me viste nascer
Hoje lentamente vejo-te morrer
Mas sei que um dia das cinzas te voltarás a erguer
Lagos, 08 Dezembro 2013
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