quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Lagos...o vazio!

Ontem foi talvez um dos dias mais tristes que tive nos últimos tempos...

Como não ia visitar o Centro de Lagos há algum tempo, ontem decidi fazê-lo. Acompanhado, parti para um domingo descontraído passeando pelas ruas históricas de Lagos (pensei eu). Estaciono perto dos táxis, damos uns passos e ficamos por uns momentos observando o braço de rio que se estende até ao Oceano Atlântico! Um final de tarde perfeito.

Atravessando uma das passadeiras que acede à Rua Portas de Portugal, cedo nos deparamos com o que seria o início de uma desolação total. Após uma curta incursão pela calçada que tantas histórias guarda, fomos de imediato “assaltados” por um cidadão local pedindo dinheiro para “jantar”, certamente não seria um jantar típico dos demais cidadãos, pensei eu, ainda para mais conhecendo referido cidadão.

Após esse episódio de abertura, qual genérico de um qualquer filme de suspense passado num velho beco de uma metrópole deixada ao abandono, seguimos o nosso caminho observando a tristeza de cada ténue luz como que dizendo em lágrimas “Não desistam, pelo menos enquanto esta pouca luz resistir ao tempo”. Senti uma total incapacidade de dizer o que quer que fosse. A minha mente apenas me transportava para os tempos de glória do Centro da Praça Gil Eanes, onde nestas épocas natalícias, as famílias se cruzavam pelas ruas, onde as crianças brincavam na estátua de D. Sebastião, onde os cafés e pastelarias se enchiam de pessoas para tomar o seu lanche e falar sobre a loja que abriu na rua do cinema, ou sobre um outro qualquer assunto que envolvesse Lagos…outrora a capital dos descobrimentos!

Cruzando a rua Marreiros Neto em direcção ao Cinema de Lagos, recentemente aberto pela empresa Algarcine, desde já agradeço a muita coragem para apostarem numa cidade onde nem os próprios governantes locais apostam ou, apostaram…vejamos esta nova vaga governamental que ai vem. Seria interessante que alguns responsáveis descessem dos altares do município e dessem estes passeios de domingo a partir das 5 horas da tarde.

Mas, continuando o nosso passeio cruzando a Rua Marreiros Neto em direcção ao Cinema de Lagos, volto a sentir uma tristeza imensa quando o espelhar de uma vitrine devolve aos meus olhos, o triste fado de mais um marco histórico da minha cidade! A Gombá, famosa pastelaria lacobrigense, imensamente povoada noutros tempos, hoje perdida num meio de infraestruturas de betão deixadas ao abandono, rodeado por lixo indiferenciado deixado pelos cantos.
Subindo, passamos pelo belo edifício onde se estabelece o Cinema de Lagos, em excelente estado diga-se, destaca-se na sua plenitude dos demais edifícios que o circundam, mas pessoas? Nem sinal.
Conseguimos encontrar, desde o início do nosso passeio, cerca de 10 a 15 pessoas de onde metade delas, o único sentimento que tivemos foi, mudar de rua ou simplesmente afastarmo-nos o mais possível…
Após descermos e passando pelo Centro Cultural de Lagos (fechado), vislumbra-mos a magnifica Igreja de Santo António, chegamos depois ao “magnifico” largo completamente deserto de qualquer movimento humano, apenas perceptível o chilrear das poucas gaivotas, as quais parecem ser as únicas genuínas contadoras de histórias de Lagos.

Apenas na avenida dos descobrimentos, junto do rio e longe do centro sombrio, se sente algum calor humano, alguma esperança de que um dia Lagos voltará a brilhar. Alguns turistas, uns em família, outros por sua conta, apreciam as águas límpidas de um outrora poluído rio, alguns deles admirados com os milhares de peixes que à tona de água, parecem admirar mais um magnífico fim de dia, num quadro perfeito com o atlântico como pano de fundo.

Gostava que um dia a minha cidade voltasse a ter o esplendor de outros tempos, onde as ruas medievais testemunhassem as correrias das crianças, as conversas de café, onde a briza centenária tocasse com leveza os rostos saudosos a imaginar Lagos ao longo da sua história!

Lagos foi e sempre será recordada pela cidade berço dos descobrimentos Portugueses, pelas imponentes muralhas, pelas históricas igrejas. Pelo mar que abençoa toda a linha de costa, pela indústria pesqueira que lhe deu vida durante décadas, pelas gentes prestáveis a todos os que por aqui passaram, pelo comércio que fluía nas suas mais variadas categorias.
Lagos foi e sempre será recordada pela sua beleza e tranquilidade mesmo em alturas de grande azáfama turística.

Ontem foi talvez um dos dias mais tristes que tive nos últimos tempos, mas guardo comigo a ténue esperança que um dia tudo regresse. Que o povo volte às ruas, hoje desertas, que o comércio volte aos becos, hoje entregues à bruma, que os barcos voltem ao cais, hoje entregue aos bravos marinheiros que resistem aos sinais implacáveis do tempo, que as gaivotas continuem a contar as suas histórias num chilrear contínuo.
Espero um dia me poder sentar num daqueles cafés contigo, e poder contar a história de uma bela cidade que me viu nascer, que eu vi morrer e que vi renascer nas cinzas que o tempo deixou esquecido!

Lagos,
Bela cidade de luzes despida
Ruas que contam histórias
Outrora contadas…hoje perdidas

Lagos,
Bela cidade pelo oceano banhada
Suas  imponentes muralhas
Saúdam caravelas vindas das grandes cruzadas

Lagos,
Grande cidade e porto de abrigo
Para comerciante, navegador
Realeza ou sem-abrigo

Lagos,
Cidade minha que me viste nascer
Hoje lentamente vejo-te morrer
Mas sei que um dia das cinzas te voltarás a erguer

Lagos, 08 Dezembro 2013

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